Quando Anja Santiago é encontrada morta em seu apartamento, sua solidão se revela em camadas. Alternando entre uma narrativa em terceira pessoa e a perspectiva do porteiro, este livro explora temas de racismo, traumas e isolamento na vida moderna. Inspirado por eventos reais, Marcela Dantés tece uma narrativa sensível e chocante que desafia nosso entendimento sobre conexão humana.
Anja Santiago está morta.
Da porta de seu apartamento, por entre as faixas de uma escandalosa fita zebrada, é possível ver: o pó, o vazio, o carpete azul desbotado e inocente. E ninguém.
Não há ninguém.
Quanto tempo até que se encontre o corpo de uma mulher que viveu e morreu sozinha? Quanta correspondência cabe na caixa de correio de alguém que já não é?
Nem sinal de asas narra os dias de uma mulher que viveu na ponta dos pés. Sua morte, cheia de dor, silêncios e devaneios, é o justo resumo do resto de sua vida, a solidão esmagadora de alguém que não gosta muito de gente, ela incluída. E seu corpo, seco-múmia, no meio da sala escura onde o ar-condicionado insiste em funcionar, é só espera: quem vai chamar por ela? E quando?
“Nem Sinal de Asas” é uma narrativa impactante sobre solidão e invisibilidade social, onde acompanhamos a história de Anja, uma mulher negra que enfrenta traumas desde a infância e possui uma relação difícil com a mãe. A trama se desenrola após a morte de Anja, percebida apenas pelo porteiro do prédio onde morava. A estrutura narrativa alternada entre a perspectiva do porteiro e a terceira pessoa oferece uma visão íntima e perturbadora de suas vidas. A história se desenrola em um cenário que explora a profundidade da solidão pessoal e o abandono. Inspirada por um evento real onde uma mulher foi encontrada morta anos após falecer, a obra provoca reflexões profundas sobre nossa sociedade e os laços humanos.
Marcela Dantés nasceu em Belo Horizonte, em 1986. Estudou Comunicação Social na Universidade Federal de Minas Gerais e é pós-graudada em Processos Criativos em Palavra e Imagem, pela PUC Minas. Pela PUC Rio Grande do Sul, cursou a Oficina de Escrita Criativa de Luiz Antônio de Assis Brasil. É autora da coletânea de contos Sobre pessoas normais (2016), obra semifinalista do Prêmio Oceanos 2017. Em 2016, foi a autora residente do FOLIO – Festival Literário Internacional de Óbidos, em Portugal. Nem sinal de asas é seu primeiro romance e foi finalista do Prêmio Jabuti 2021 e do Prêmio São Paulo de Literatura 2021.
