Não fossem as sílabas do sábado, com sua narrativa íntima e repleta de passagens que assombram pela concretude, e a partir do relacionamento conflituoso que se estabelece entre as duas mulheres, nos ensina, na violência da morte, a ler melhor a vida.
Uma tragédia acaba com uma família, um amor, uma história. Mas outra história também pode começar nela. Um absurdo acidente tem a possibilidade de unir as mulheres que restaram dele, num duro e ao mesmo tempo terno embate de isolamentos.
Depois da morte de André, o lar de Ana fica dolorido. Sem o marido, ela passa a gestar a filha órfã e a lidar com Francisca, a babá que intervém com seus tentáculos de ajuda, e também Madalena, a vizinha, viúva do outro homem envolvido no absurdo acidente que vitimou André. Neste romance, com sua narrativa íntima que assombra pela concretude, a autora se consolida como uma das vozes mais urgentes da literatura brasileira de hoje.
“Só então ela olhando as elevações do meu vestido, reparando naquela gravidez que ia me cavando por dentro o mesmo tanto que me distendia por fora, a barriga que ia se despegar de mim a qualquer minuto e tombar no chão. E então, aí sim, ficou evidente que ela não me deixaria em paz, ela não me deixaria nunca. […] Ela foi embora mais forte do que tinha entrado, mais erguida, encontrou um novo propósito, uma menina que na solidão das férias acolhe um pássaro doente.”
Mariana Salomão Carrara nasceu em 1986, em São Paulo. É autora, entre outros, de SE DEUS ME CHAMAR NÃO VOU (Nós, 2019) finalista do Jabuti 2020, É SEMPRE A HORA DA NOSSA MORTE AMÉM (Nós, 2021) e NÃO FOSSEM AS SÍLABAS DO SÁBADO (Todavia, 2023), romance vencedor do Prêmio São Paulo de Literatura 2023.