Juan Rulfo tece uma narrativa hipnotizante onde realidade e fantasia se misturam. Em busca de seu pai, um homem descobre um vilarejo assombrado por memórias e vozes do passado. Uma obra-prima do realismo mágico.
O realismo fantástico como hoje se conhece não teria existido sem este livro. Desta fonte beberam o colombiano Gabriel García Márquez e o peruano Mario Vargas Llosa. A partir da combinação de dois elementos essenciais ao sucesso da literatura latino-amerciana – o realismo fantástico e o regionalismo -, Rulfo se destaca pela sua habilidade em contar uma história reunindo relatos e lembranças.
De enredo conciso e preciso, o único romance de Juan Rulfo trata da promessa feita por Juan Preciado à mãe moribunda. O rapaz sai em busca do pai, Pedro Páramo, um lendário assassino. No caminho, encontra impressionantes personagens repletos de memórias, que lhe falam da crueldade implacável de seu pai.
Em sua estrutura não há linha temporal exata, tampouco um narrador fixo. Juan Rulfo nos leva a mergulhar e a nos dissolver no turbilhão dos sentimentos de todo um povoado, em torno desse grande homem.
Alegoricamente, o romance é o Méximo ferido, que grita suas chagas e suas revoluções, por meio de uma aldeia seca, onde apenas os mortos sobrevivem para narrar os horrores de sua história e política. Pedro Páramo é basicamente sobre a presença da morte em meio à vida. Um livro, de poética simples e concisa, curto e inesquecível.
“Vim a Comala porque me disseram que aqui vivia meu pai, um tal de Pedro Páramo.
Minha mãe me disse. E eu prometi que viria vê-lo assim que ela morresse. Apertei suas mãos em sinal de que faria isso; pois ela estava morrendo, e eu decidido a prometer tudo. ‘Não deixe de ir visitá-lo’, recomendou ela. ‘O nome dele é assim e assado. Tenho certeza que ele vai gostar de conhecer você.’ Então não tive outro jeito a não ser dizer a ela que faria isso, e de tanto dizer continuei dizendo mesmo depois que minhas mãos tiveram trabalho para se safarem de suas mãos mortas.”
Juan Rulfo (1917-1986) nasceu em Jalisco, no México. Publicou seus primeiros contos em revistas, mas foi a partir de Pedro Páramo que alcançou prestígio e passou a ser um dos mais celebrados escritores de língua espanhola. Traduzido em mais de 32 línguas, recebeu o Prêmio Nacional de Literatura do México, em 1970, e o Prêmio Príncipe das Astúrias, em 1983. Em 1991 foi criado o Prêmio Juan Rulfo, que condecora grandes nomes da literatura latino-americana.